domingo, 2 de julho de 2017

FÍMBRIA

Aquele homem delicado caminhou pela praia
e chegando à beira, onde a água faz a areia mudar de textura,
exibindo sua permeabilidade,
abaixou-se,  e olhando o mar
não quis mais.
Chama-se  fimbria a borda apática  que demora a desfazer-se
quando a água se arrepende
da célere marcha devastadora  que poderia perfeitamente empreender
na direção da orla urbanizada,
dos prédios amontoados escondendo os pobres
encarapitados no alto das pedras
antes que esgueirem entre as frinchas e se abriguem nos latões de lixo
e o mar não invade
o mar é aquele homem delicado que não quis mais e
a turba não completa o movimento de abandonar os latões
e tomar de assalto
(o sangue nos olhos as facas na fronte)
e sequer o mar arrebata o homem que desistiu
e quando é assim
então ninguém adentra a cidade dolente
decidido a  sofrer sua pena e sua luz
e estacam todos
o homem delicado e só
a turba despossuída e mais
o mar conformado à baixa-mar
e se chama fímbria e é aí que se encontram os delicados
 onde o velho Diabo fumando seu houka
na tela de última geração
smart e led
ri do quanto se perde a vida por falsa
delicadeza.



 
Foto de Carolina Bezerra

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