terça-feira, 12 de novembro de 2013

Dois poemas de Edwin Morgan




GAROTA DE OBAN

Uma garota na janela comendo um melão
comendo um melão e pintando um quadro
pintando um quadro e cantarolando Hey Jude
cantarolando Hey Jude enquanto a luz evanesce
 
No outono estará casada

 
OBAN GIRL

A girl in a window eating a melon
eating a melon and painting a picture
painting a picture and humming Hey Jude
humming Hey Jude as the light was fading
 
In the autumn she’ll be married

 

 

 

NA ESTAÇÃO CENTRAL

Na estação Central, no meio do dia
uma mulher está mijando na calçada.
Com as costas para a parede e as pernas afastadas
ela inclina-se, o cabelo caindo sobre o rosto,
a saia sombria e o casaco nem sequer levantado.
Sua urina bate na pedra com força
e corre em direção à sarjeta.
Ela não é velha, nem jovem,
não é suja, tampouco limpa,
nem em trapos, mas naquele caminho.
Ela está no centro da cidade, o fantasma no banquete.
Executivos saindo do trem de Londres
assustam-se incrédulos mas pulam o rio
e mansamente juntam-se à fila do táxi.
A gente de Glasgow passa apressada,
mal olha, ou se atreve a olhar,
ou olha severamente, atrevida, como
o olhar do poeta, não duro como o aço
mas severo, rápido, diminuindo o passo
um pouco, registrador maldito, seus sentimentos
tão confusos como as folhas de novembro.
Ela é uma estátua em um redemoinho,
surrada por nada que ele possa dizer em palavras,
sangrando nas ondas de conversa
e transita fluidos terríveis de necessidade.
Somente dois homens francamente param,
com um sorriso largo, jogam-lhe um insulto
enquanto cruzam a rua para apostar no jogo.
Sem eles a indignidade,
a dignidade, seria incompleta.
 

AT CENTRAL STATION

At Central Station, in the middle of the day
a woman is pissing on the pavement.
With her back to the wall and her legs spread
she bends forward, her hair over her face,
the drab skirt and coat not even hitched up.
Her water hits the stone with force
and streams across into the gutter.
She is not old, not young either,
not dirty, yet hardly clean,
not in rags, but going that way.
she stands at the city centre, skeleton  at the feast.
Executives off the London train
start incredulously but jump the river
and meekly join the taxi queue.
The Glasgow crowd hurries past,
hardly looks, or hardly dares to look,
or looks hard, blod as brass, as
the poet looks, not bold as brass
but hard, swift, slowing his walk
a little, accursed recorder, his feelings
as confused as the November leaves.
She is a statue in a whirlpool,
beaten about by nothing he can give words to,
bleeding into the waves of talk
and traffic awful ichors of need.
Only two men frankly stop,
grin broadly, throw a gibe at her
as they cross the street to the betting-shop.
Without them the indignity,
the dignity, would be incomplete.
 

                         Tradução de Virna Teixeira

 

Edwin Morgan. Na Estação Central.  Sel. trad. e introdução de Virna Teixeira.  Editora UnB (Poetas do mundo), 2006.


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